Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Vinícius de Moraes
Muito bonito este texto. Irei procurar acerca deste autor que não conhecia!
ResponderEliminarParece-me ser a descrição de um Amor impossível/platónico, que se um dia fosse alcançado teria o seu fim (deixaria de fazer sentido)
O Amor tem esse dom, é capaz de nos manter eternamente agarrados a algo/alguém que aparente não tem sentido. Pois mesmo sabendo que dificilmente o iremos alcançar, mantemos a esperança...
Mas julgo (e gosto de pensar assim), que depois de alcançado aquilo que com Amor tanto procuramos, a única coisa que deixa de fazer sentido é a procura, pois já encontramos o que procurávamos, podendo essa relação ser melhorada e trabalhada, no sentido de ser mantida.